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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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6 de janeiro de 2011

Sinagoga de Nazaré

Que ninguém se escandalize: Jesus "saiu do armário" em grande estilo. Fala sobre isso a liturgia de hoje (leia Lc 4, 14-22a). Aliás, a passagem do Evangelho, lida hoje na Missa, relata apenas a primeira parte deste acontecimento. O termo "sair do armário" entrou de vez na linguagem moderna e está relacionado diretamente com a revelação da identidade homossexual de um indivíduo. Entretanto, no sentido mais amplo, podemos falar aqui de todo tipo de "autorrevelação". A pessoa assume e mostra aquilo que, de fato, é. Neste caso, o "armário" de Jesus era o período de, aproximadamente, 30 anos, chamado "vida oculta". Depois de passar este tempo todo, Jesus vai à sinagoga de Nazaré, faz a leitura da profecia de Isaías (61, 1-2a) e diz: "Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir" (Lc 4, 21). Podemos (nós, os gays) tirar algumas conclusões desta comparação. Primeira delas parece indicar a "saída do armário" como inevitável ou até necessária. Falam sobre isso muitos autores, entre os quais, psicólogos e terapeutas. Muitos homossexuais dão testemunho sobre a sensação de alívio, após este ato de coragem e apesar de vários "efeitos colaterais" do choque inicial. Outra conclusão pode não ser tão clara, mas o fato de Jesus ter aguardado até alcançar a idade adulta para se revelar como Messias, sugere certa precaução ou prudência, em questão do "momento exato", também para assumir publicamente a homossexualidade. Embora muitos adolescentes tenham experimentado fortes pressões (internas e externas), sem dúvida devem ter muita paciência e sabedoria para tal decisão. A leitura da passagem completa, inclusive sobre a reação dos ouvintes, leva-me a uma outra conclusão. Mais uma vez, vem na minha mente a frase de João Paulo II (na verdade, é uma afirmação do Concílio Vaticano II, citada e desenvolvida pelo Papa), mancionada algumas vezes neste blog (p.ex. na "Novena de Natal" - aqui): Pela sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, se uniu de certo modo a cada homem. (Encíclica Redemptor hominis, n° 13). O Evangelista Lucas conta o que aconteceu depois da declaração de Jesus. No início todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca (Lc 4, 22a) e diziam: Não é este o filho de José?" (v. 22b). A admiração transforma-se logo em questionamento e este tem uma direção clara: o pai (a mãe, a família). É notável a frequente preocupação dos pais, diante do filho ou filha homossexual que acaba de se revelar. Geralmente dizem: "O que os outros vão pensar e falar sobre nós, sobre nossa família?!". O evangelho de Lucas continua mostrando Jesus na tentativa de uma argumentação, um diálogo. Infelizmente não há diálogo: a estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual era construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se (Lc 4, 28-30). Eu leio este texto como uma declaração de amor e solidariedade de Jesus para com cada pessoa rejeitada e não compreendida, inclusive com cada homossexual que sai do armário e enfrenta uma tempestade. Jesus diz: eu também passei por isso e por outras coisas, ainda piores. Eu te amo, compreendo e acolho. Não temas. Eu estou contigo.

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