ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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30 de setembro de 2011

saber ler a Bíblia

São Jerônimo, Doutor da Igreja (n. 347; +420), cuja memória celebramos neste último dia do mês da Bíblia, disse: "Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo" (o que inclui também a capacidade de interpretá-la). É neste contexto que trago hoje um trecho do (surpreendente!) livro de José Lisboa, “Acompamhamento de vocações homossexuais". Antes de ler o próprio texto, vale a pena saber um pouco mais sobre o autor.

Jose Lisboa Moreira de Oliveira, nascido aos 14 de agosto de 1956, é o sacerdote da Sociedade das Divinas Vocações (Vocacionistas), natural de Araci (Bahia), doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, formador, autor de vários livros e dezenas de artigos sobre o tema da vocação e da animação vocacional, membro da Equipe de Reflexão Teológica da Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil, foi assessor do Setor Vocações e Ministérios da CNBB (1999-2003) e atualmente é Diretor-Presidente do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), gestor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília, onde também é professor de Antropologia da Religião e Ética.

...com outras palavras, o padre José Lisboa não pertence àquele pequeno grupo de sacerdotes católicos que, tidos pela hierarquia como bizarros, balançam no limiar entre a legitimidade de seu ministério e uma eventual suspensão de ordens ou, até, excomunhão. No contexto de sua ficha, cheia de méritos e reconhecimento, o livro em questão torna-se, de fato, uma leitura que espanta positivamente e desperta a esperança de uma provável mudança de mentalidade. Penso comigo mesmo: os componentes daquele ambiente fechado e petrificado, chamado “alto clero”, têm que ouvir a voz de um dos seus mais próximos e respeitados colaboradores. A não ser que já estejam preparando uma sentença de Pilatos... Vamos, pois, ao texto.

O ser homossexual, em si mesmo, não representa nenhum pecado e nenhuma culpa, assim como o ser heterossexual não é garantia de perfeição e de santidade. O que a Bíblia não aprova é um determinado tipo de prática da homossexualidade que inverte e perverte a dinâmica da sexualidade desejada pelo Criador para a pessoa humana (Cf. Gn 2, 18-25). Ela não condena a homossexualidade em si, uma vez que o ser humano não pode ser condenado por uma situação que ele mesmo não teve a liberdade, a consciência e a responsabilidade suficientes para escolher. (...) Acredito que nessa mesma direção devem ser interpretados os textos oficiais da Igreja Católica que tratam dessa questão. Tomando como referência o Catecismo da Igreja Católica de 1992, aprovado pelo papa João Paulo II, acredito que seja possível fazer essa leitura, superando a mentalidade de que tais documentos discriminam homossexualidade enquanto tal. (...) Cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 2357-2359. Isso fica mais claro quando se analisam os textos bíblicos usados para dar fundamentação às afirmações magisteriais (Gn 19, 1-29; Rm 1, 24-27; 1Cor 6, 10; 1Tm 1-10). Todas essas referências bíblicas são unânimes em condenar os "abusos" (Gn 19, 4), o desrespeito ao corpo e as paixões descontroladas (Rm 1, 24-26), os relacionamentos injustos (1Cor 6, 10) e desregrados (1Tm 1, 10). Nenhum deles condena a identidade sexual da pessoa, mas a depravação, ou seja, um exercício da sexualidade que degrada e avilta a pessoa humana, imagem e semelhança do Criador. Na verdade o que é detestável é a "prostituição", isto é, toda forma de relação sexual-genital que torna a pessoa menos humana e que, por isso, ofende o Criador. Por essa mesma razão, a Bíblia condena também as relações sexual-genitais entre pessoas heterossexuais que não dignificam o ser humano e que o transformam em objeto. O que está em jogo e é detestável é a coisificação, a manipulação, da pessoa humana. Uma relação sexual-genital narcisista, voltada para a pura satisfação egoísta, custe o que custar (cf. 1Ts 4, 3-8; 1Cor 6, 15-20; 2Cor 12, 21; Gl 5, 19; Rm 1, 26-27).
[Pe. José Lisboa Moreira de Oliveira, "Acompanhamento de vocações homossexuais",
Editora Paulus, São Paulo, 2007, pp. 13 e 15.]

O mistério dos Anjos

A Igreja convida-nos, nestes dias, a mergulhar no mistério que só aparentemente é um conto de fadas, próprio para ser contado às crianças. Trata-se de Anjos. O Credo católico proclama Deus, o Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. Celebramos ontem (29/09) a Festa dos Arcanjos: Miguel, Gabriel e Rafael. No próximo dia 02/10, temos a memória dos Santos Anjos da Guarda (omitida neste ano por coincidir com o domingo). Nesta ocasião, gostaria de compartilhar com Vocês uma reflexão...

Jesus disse que no Reino dos céus seremos iguais aos anjos (cf. Mt 22, 30; Mc 12, 25; Lc 20, 36). Segundo os nossos critérios de lógica, quem tem mais é superior àquele que tem menos. Na tentativa de comparação dos homens com os anjos, porém, acontece exatamente o contrário. Nós temos algo que os anjos não têm: o corpo e tudo que ele nos proporciona. Às vezes podemos pensar: "Coitadinhos desses seres espirituais. Se eles soubessem o que é que nós experimentamos e que sensações temos graças à corporeidade". E se descobrirmos que ter o corpo é uma limitação? Que, de fato - e principalmente depois do pecado original e antes da ressurreição da carne e glorificação final - o corpo nos diminui e não engrandece? Podemos ver isso através de um exemplo. Os amantes, de vez em quando, prometem "levar, um ao outro, ao céu". Com essa expressão eles estão, ao mesmo tempo, muito próximos e muito distantes da realidade. Enquanto, por um lado, nada neste mundo se compare com o gozo de um ato sexual, por outro lado, tais palavras estão beirando a blasfêmia, ainda que inconsciente. É inconsciente (e inocente) como tantas outras afirmações que fazemos, simplesmente por não termos noção do que estamos falando. Algo assim aconteceu com Pedro na hora da transfiguração de Jesus (cf. Lc 9, 33). Voltando à questão das nossas sensações que, como pensamos, os anjos não experimentam, podemos dizer que, de fato, eles não sentem o que nós sentimos, mas, certamente, sentem muito mais. Os anjos não têm as nossas sensações humanas, porque experimentam algo incomparavelmente mais elevado, sublime e profundo. Com outras palavras, aquilo que os amantes experimentam, por um instante apenas, ao serem "levados ao céu" um pelo outro, os anjos experimentam, de maneira muito mais intensa e, principalmente, duradoura de um “jeito celestial”. Seria, talvez, estranho dizer que eles vivem em um constante "super orgasmo", no entanto, o termo "gozo", é muito frequente na literatura mística da Igreja. S. Paulo diz que agora vemos confusamente, como num espelho e que então veremos face a face (cf. 1Cor, 13, 12). Em nosso contexto podemos entender o verbo "ver" no sentido mais amplo, como, por exemplo, sentir ou experimentar. Toda questão (e toda diferença) está no fato de que os anjos veem claramente e sem nenhum espelho. Isto é, experimentam a plenitude daquilo que nós temos de modo parcial e imperfeito, justamente por causa do corpo. Diferentemente da postura de desprezo em relação ao corpo à qual essa constatação levou numerosas gerações dos cristãos no passado, devemos contemplar todas as dimensões do nosso ser como um reflexo da divindade. Fomos, pois, criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26). E, ao cultivarmos a esperança da futura plenitude, desde já podemos assumir as três principais expressões angelicais: [1] a constante adoração ao Altíssimo, essencial para sua natureza, [2] a missão de proclamar a misericórdia do Senhor e [3] a tarefa de auxiliar os irmãos em suas necessidades. Pensando bem, percebemos que essas três são, na verdade, uma coisa só: o amor. Não foi por acaso, ou apenas pela beleza de expressão, que atribuíram o título de “Anjo bom da Bahia” à Irma Dulce, beatificada neste ano.

Amemos, portanto, para sermos, também nós, os anjos bons.

23 de setembro de 2011

Papa na Alemanha

Recordo aqui a notícia, divulgada em abril deste ano (leia aqui), sobre um encontro do Papa com os representantes das organizações GLBTS, na ocasião da sua viagem à terra natal, Alemanha. Como a "midia-padrão" (tipo: Globo, etc.) do Brasil quase não menciona a viagem do Papa, espero que, pelo menos, os "nossos" meios de comunicação notifiquem tal fato, caso aconteça mesmo.

o que dizem

O tema de - assim chamada - opinião pública foi abordado nesta quinta-feira nas leituras da Missa. Quem de nós, homens e mulheres GLBTS, não sofreu por causa desse fenômeno. Em nossos tempos a coisa ficou ainda mais grave, devido à rápida circulação de tal opinião. Podemos ter certeza de que o intercâmbio das notícias é capaz não só de derrubar o coronel Kadafi, mas, igualmente, tem o poder de infernizar a nossa própria vida. Não raramente, é a nossa sexualidade que se torna o alvo de divagações compartilhadas com total crueldade...

Vejamos as leituras. Os três versículos do Evangelho (Lc 9, 7-9) contêm tais termos como: Herodes ouviu falar... ficou perplexo... porque alguns diziam... outros diziam... Parece familiar? Pois é... Compare, também, com o texto desta sexta-feira (Lc 9, 18-22). O profeta Ageu (Ag 1, 1-8), por sua vez, é o mensageiro do Senhor que contesta (e detesta), justamente, a opinião pública: Este povo diz: "Ainda não chegou o momento de edificar a casa do Senhor". (v. 2) E reage assim: subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa; ela me será aceitável, nela me glorificarei, diz o Senhor. (v. 8)

Conclusão: a opinião dos outros, capaz de nos empurrar ao vale de uma depressão, com frequência não está de acordo com a realidade e costuma estar em oposição com a "opinião" que o próprio Deus tem a nosso respeito. Acho bom e útil lembrar-se disso e, quando necessário, saber mandar aquela gente fofoqueira para o quinto dos infernos.

20 de setembro de 2011

Bento XVI aos namorados

No dia 11 de setembro deste ano o Papa Bento XVI realizou a sua viagem apostólica à cidade italiana de Ancona. No final da tarde o Papa teve o encontro com os namorados. O assunto principal, evidentemente, era a preparação ao matrimônio (heterossexual, entende-se). Ao ler o seu discurso, pensei: ele não tem como não falar sobre este tema, até porque dirige-se a todos e o namoro heterossexual é uma experiência vivida pela maioria daqueles jovens, reunidos lá, na Praça do Plebiscito. Aliás, seria super-curioso promover por lá um plebiscito sobre a união homoafetiva, mas não foi desta vez. Falando sério, o que chamou a minha atenção no texto (aqui), foi uma consoladora ausência daquelas famosas afirmações indiretas (antigamente mais frequentes) que detonam qualquer ideia sobre o amor entre as pessoas do mesmo sexo. Mesmo falando para a maioria heterossexual, o Papa deixou umas dicas preciosas que servem muito bem – na minha opinião – aos que vivem o amor homossexual. Vejamos algumas frases (os grifos são meus):

Nunca percais a esperança. Tende coragem, também nas dificuldades, permanecendo firmes na fé. Tende a certeza de que, em todas as circunstâncias, sois amados e protegidos pelo amor de Deus, que é a nossa força. Deus é bom. Por isso é importante que o encontro com Ele, sobretudo na oração pessoal e comunitária, seja constante, fiel, precisamente como o caminho do vosso amor: amar a Deus e sentir que Ele me ama. Nada nos pode separar do amor de Deus! Depois, tende a certeza de que também a Igreja está próxima de vós, vos ampara, não cessa de olhar para vós com grande confiança.


Como namorados estais a viver uma fase única, que abre para a maravilha do encontro e faz descobrir a beleza de existir e de ser preciosos para alguém, de poder dizer um ao outro: tu és importante para mim. Vivei com intensidade, gradualidade e verdade este caminho. Não renuncieis a perseguir um ideal alto de amor, reflexo e testemunho do amor de Deus!


Gostaria de vos dizer antes de tudo que eviteis fechar-vos em relações intimistas, falsamente animadoras; fazei antes com que a vossa relação se torne fermento de uma presença ativa e responsável na comunidade. Depois, não vos esqueçais de que para ser autêntico, também o amor exige um caminho de amadurecimento: a partir da atração inicial e do «sentir-se bem» com o outro, educai-vos a «amar» o outro, a «querer o bem» do outro. O amor vive de gratuidade, de sacrifício de si, de perdão e de respeito do outro.


Queridos amigos, cada amor humano é sinal do Amor eterno que nos criou, e cuja graça santifica a escolha de um homem e de uma mulher de se entregarem reciprocamente a vida no matrimônio. Vivei este tempo do namoro na expectativa confiante desse dom, que deve ser aceite percorrendo um caminho de conhecimento, de respeito, de atenções que nunca deveis perder: só sob esta condição a linguagem do amor permanecerá significativa também com o passar dos anos.


Gostaria de voltar mais uma vez a falar de um aspecto essencial: a experiência do amor tem no seu interior a propensão para Deus. O verdadeiro amor promete o infinito! Por conseguinte, fazei deste vosso tempo de preparação para o matrimônio um percurso de fé: redescobri para a vossa vida de casal a centralidade de Jesus Cristo e do caminhar na Igreja.


Também eu gostaria de vos dizer que estou próximo de vós e de todos os que, como vós, vivem este maravilhoso caminho de amor. Abençoo-vos de coração!

12 de setembro de 2011

o nome de Maria

Hoje a Igreja celebra a memória do Santíssimo Nome de Maria. O beneditino, Anselm Grün, em seu livro "Festas de Maria" [Ed. Santuário, Aparecida-SP, 2009], explica:

"Nomen est omen" (o nome é um presságio), diziam os latinos. O nome já diz alguma coisa do seu usuário. (...) O nome Maria deriva de duas raízes, uma egípcia e outra hebraica. Myr no Egito significa amada, enquanto em hebraico é uma abreviação de Javé. Assim, Maria ou Myrjam significa "amada de Javé" ou "muito amada de Deus". (...) Deus a escolheu para ser Vaso do Espírito Santo e Mãe de Deus.

Conforme outra etimologia, Maria pode significar "a exaltada e sublime". Na Tradição o termo "Maria" foi derivado de outras palavras. A palavra hebraica "mar" quer dizer amargo; "jam" significa mar. Maria seria chamada então "mar de amargura". Seria uma alusão à "Mãe dolorosa" que participa do sofrimento de Cristo.

Outros derivam Maria de "mir", que significa "iluminador". Então Maria seria a iluminadora do mar ou, como foi chamada pela tradição, "Estrela do mar". Bernardo de Claraval diz desta Estrela do Mar: "Experimenta tirar Maria, esta Estrela do mar, do grande e vasto mar! O que sobra além da treva avassaladora que tudo envolve nas sombras da morte e da escuridão cerrada". [p. 97-98]

10 de setembro de 2011

o cisco e a trave [2]

Volto a comentar o Evangelho de ontem (leia a primeira parte desta reflexão aqui). A advertência de Jesus: Como podes dizer a teu irmão: "Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho", quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão. (Lc 6,41-42) parece contradizer todo o seu (tão detalhado) ensinamento sobre a correção fraterna, proclamado no último domingo (Mt 18, 15-20) [leia essa reflexão]. À primeira vista, a frase: Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! (Mt 18, 15), não combina com a outra: Como podes dizer a teu irmão: "Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho", quando tu não vês a trave no teu próprio olho? (Lc 6, 41). Uma leitura atenta, porém, leva-nos a compreender esses dois textos como complementares. Mais uma vez, essencial é o amor, como a única motivação de cada atitude. Quem quer tirar o cisco do olho de alguém, permanece numa postura de falso e soberbo juiz. Provavelmente, a sua iniciativa de apontar o erro do outro, tenha sido uma tentativa de se apresentar como o melhor. Com outras palavras, quem pretende tirar o cisco do olho de alguém, diz: "Você está errado". Quem abraça o delicado desafio, chamado "correção fraterna", diz: "Eu me preocupo com você".

Ao comparar estes dois textos do Evangelho, veio-me na memória um livro que tinha lido, há muitos anos. O título é: "Como falar para seu filho ouvir e como ouvir para seu filho falar" de Adele Faber e Elaine Mazlish ([Editora Summus, 2003] - um best seller nos Estados Unidos, com mais de dois milhões de exemplares vendidos. As autoras desenvolvem um método efetivo e respeitoso para o diálogo com as crianças. O livro é ilustrado com divertidos quadrinhos que demonstram situações concretas e oferecem soluções inovadoras para problemas comuns em famílias, como lidar com sentimentos negativos, expressar emoções, conseguir a cooperação das crianças e resolver conflitos). Resumindo, o livro mostra (entre outras coisas) a grande diferença entre a sentença: "você está errado!" e uma descrição de seus próprios sentimentos: "Fiquei triste ao ver você fazendo isso. Não sei se entendi bem. Vamos conversar sobre isso?". A primeira opção não supõe a presença de amor. A segunda, pelo contrário, revela-o. Acredito que, justamente aqui, está toda a diferença.

9 de setembro de 2011

o cisco e a trave [1]

Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? Como podes dizer a teu irmão: "Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho", quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão. (Lc 6,41-42)  [O texto do Evangelho de hoje: Lc 6, 39-42]

Fiquei pensando (de novo) sobre aquela interminável sinfonia de acusações mútuas entre dois mundos: o "mundo GLBTS" e o "mundo das Igrejas". Não adianta negar: o preconceito está de ambos os lados. Será que existe alguma saída?

São Paulo, na primeira leitura de hoje (1Tm 1,1-2.12-14) propõe uma pista. Infalível: Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e insultava. Mas encontrei misericórdia, porque agia com a ignorância de quem não tem fé. Transbordou a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. (vv. 12-14)

Com outras palavras: somente quem experimentou a misericórdia de Deus, é capaz de ter misericórdia para com os outros. Quem experimentou a misericórdia de Deus, torna-se humilde. Pensemos nisso.

5 de setembro de 2011

corrigir o irmão

Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como um pagão ou um pecador público. (Mt 18, 15-17)

É uma sábia e detalhada lição sobre a estratégia chamada "correção fraterna". Em nossa reflexão pessoal podemos nos colocar de um e de outro lado da questão: como aquele que corrige e aquele que está sendo corrigido. Em minha opinião, a palavra chave é o termo "irmão". Em nenhuma das situações descritas Jesus desiste deste termo. É o ponto de partida. Ou, o ponto de vista. Enquanto vejo o irmão, a minha atitude de corrigi-lo será motivada pelo amor fraterno. No momento em que o irmão se torne "adversário" ou "inimigo", melhor parar com esse negócio de querer corrigi-lo. As duas últimas fases requerem bastante atenção. Quando Jesus recomenda "Dize-o à Igreja", não se trata, certamente, de fazer fofoca, mas de recorrer à autoridade (o primeiro significado de "Igreja") e/ou de envolver a comunidade intercessora (o significado de "Igreja-comunidade"). Diante da resistência máxima daquele irmão vem o último passo: "tratá-lo como se fosse um pagão ou um pecador público". Embora, na nossa mente poluída, isso pode significar atos de rejeição ou, quem sabe, agressividade, basta perguntar: como é que Jesus tratava os pagãos e os pecadores públicos. Notemos que o Senhor continua falando de um irmão que, no caso extremo de "cabeça dura" deve ser tratado como se fosse o pagão ou o pecador público. Com outras palavras: devemos recomeçar (da estaca zero) uma amorosa evangelização daquele irmão.

A mensagem de Jesus fica ainda mais evidente com o texto da segunda leitura de hoje (Rm 13, 8-10): Irmãos! Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei. De fato, os mandamentos: “Não cometerás adultério”, “Não matarás”, “Não roubarás”, “Não cobiçarás” e qualquer outro mandamento se resumem neste: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei.