ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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1 de outubro de 2013

+ Gefferson Ferrer



O Portal Gay1 informou ontem sobre a morte de um jovem, Gefferson Ferrer que se jogou do 3° piso, no shopping Taguatinga (Brasília, DF). Segundo o portal, Gefferson havia anunciado a sua morte no facebook. Nesta madrugada, o seu perfil ainda estava disponível, mas agora não existe mais. A sua despedida,
feita algumas horas antes do suicídio, expressa a profunda angústia e solidão. Uma das últimas postagens exibe o pensamento de Curt Cobain: "Se os meus olhos mostrassem a minha alma, todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo" e a outra, traz a fase: "Tudo tem conserto menos a morte... a morte conserta tudo". Além dessas citações, havia as palavras do próprio Gefferson: "Obrigado gente pela força e pelo carinho de alguns, mas não tem volta, não... Um dia todos iremos embora e eu vou hoje!!!". Um pouco antes, o rapaz escreveu: "Só merece viver quem tem força pra enfrentar as armadilhas da vida e hoje eu não tenho mais força pra nada! Não tenho direito de amar muito menos de ser Amado. Viver com o coração cheio de dor eu não aguento por isso decidi partir pra nunca mais voltar". A página de notícias "Alto Paraíba" acrescenta a informação que o rapaz estava assistindo o filme "Invocação do mal" e, antes de terminar o filme, saiu e pulou.
 
 
Cada morte nos deixa perturbados, por mais que a cultura modera, justamente, a "cultura da morte", procure banaliza-la. Mais ainda, a morte suicida. Muitos sentem a tentação de julgar, outros de tentar explicar. Na verdade, estamos diante de um mistério, chamado "ser humano". O mistério é tão grande que até a Igreja (católica) que tem tanta dificuldade em modificar os seus pontos de vista e que, antigamente, negava às pessoas que tiraram a própria vida, o lugar na terra "benzida" e reservava um espaço à parte no cemitério para "tais pessoas". Hoje em dia, a Igreja diz: Distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provação, do  sofrimento ou da tortura, podem diminuir a responsabilidade do suicida. Não se deve desesperar da salvação das pessoas que se mataram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida (CIC, 2282-2283). Na prática, admite-se a suposição de que talvez, nos últimos instantes (entre o ato suicida e a morte efetiva), pela infinita misericórdia de Deus, ter-se-á arrependido de seu ato e obtido o perdão. Vale lembrar aqui o fato de que a Igreja que tenha declarado oficialmente a salvação eterna de muita gente (em forma de beatificação ou canonização), nunca se pronunciou a respeito da condenação no inferno de quem quer que seja.
 
Recentemente, o Papa Francisco, disse: Quantas pessoas tristes, quantas pessoas tristes, sem esperança! Pensai também nos muitos jovens que, depois de terem experimentado tantas coisas, não encontram sentido na vida e procuram o suicídio, como solução. Sabeis quantos suicídios de jovens há hoje no mundo? A cifra é alta! Por quê? Não têm esperança. Experimentaram tantas coisas e a sociedade, que é cruel — é cruel! — não nos pode dar esperança. A esperança é como a graça: não se pode comprar, é um dom de Deus. E nós devemos oferecer a esperança cristã com o nosso testemunho, com a nossa liberdade, com a nossa alegria. O dom da graça que Deus nos dá, traz a esperança. Nós, que temos a alegria de nos apercebermos que não somos órfãos, que temos um Pai, podemos permanecer indiferentes a esta cidade que nos pede, talvez também inconscientemente, sem o saber, uma esperança que ajude a olhar para o futuro com maior confiança e serenidade? Nós não podemos ser indiferentes.
 
Não sei como anda, neste sentido, a doutrina das Igrejas evangélicas. A morte de Gefferson trouxe a recordação de um outro jovem, Saulo Assis de Lima que se jogou de uma torre de telefonia em Porto Velho, Rondônia, em abril deste ano. Os relatos de amigos deste jovem de 23 anos não deixam dúvidas. Saulo foi expulso de casa pela família que é evangélica, por ele ter sido aidético e homossexual. De acordo com diversas fontes, o corpo de Saulo permaneceu muitos dias no IML da cidade. Surgiu, até, uma campanha no facebook: "Um funeral digno para Saulo".
 
Repito: não tenho o conhecimento suficiente sobre a doutrina evangélica e os seus "dogmas" sobre o suicídio. Talvez o ponto de partida tenha sido a história de Judas Iscariotes e uma associação inescrupulosa de versículos bíblicos, tais como: "Judas Iscariotes foi o traidor" (Mt 10, 4); "Satanás entrou em Judas" (Lc 22, 3); "Seria melhor para esse homem que jamais tivesse nascido!" (Mt 26, 24). Por sua vez, é mais que evidente, o discurso homofóbico da maioria dos pastores evangélicos. Voltemos, porém, ao contexto católico...
 
A Igreja católica que usa o termo "tendências homossexuais profundamente radicadas", na verdade revela a sua própria homofobia, profundamente radicada. Por mais que tente escondê-la sob uma veemente condenação de discriminação (injusta - sic!), logo acrescenta que quando é aceita a afirmação de que a condição homossexual não seja desordenada e, por conseguinte, a atividade homossexual é considerada boa, nem a Igreja nem a sociedade em seu conjunto deveriam surpreender-se se depois também outras opiniões e práticas distorcidas ganham terreno e se aumentam os comportamentos irracionais e violentos. A Igreja não se surpreende com os comportamentos irracionais e violentos contra as pessoas homossexuais, mas é incapaz de admitir a sua própria contribuição para tais comportamentos. Vejamos alguns princípios que servem para a pregação da doutrina, nas igrejas e salas de catequese, nos encontros de oração e retiros, em formação de jovens e de todos os outros fiéis católicos. A Igreja afirma e ensina o seguinte:
 
Na "Carta sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais"
  • Como acontece com qualquer outra desordem moral, a atividade homossexual impede a autorrealização e a felicidade porque contrária à sabedoria criadora de Deus.
  • Quando se entregam a uma atividade homossexual, elas [as pessoas homossexuais] reforçam dentro delas mesmas uma inclinação sexual desordenada, caracterizada em si mesma pela auto-complacência.
  • Uma pessoa que se comporta de modo homossexual, age imoralmente.
  • São Paulo apresenta o comportamento homossexual como um exemplo da cegueira em que caiu a humanidade.
  • A própria inclinação deve ser considerada como objetivamente desordenada.
  • O Autor [do Livro de Levítico] exclui do povo de Deus os que têm um comportamento homossexual.
  • O  fenômeno do homossexualismo, em suas múltiplas dimensões e com seus efeitos sobre a sociedade e sobre a vida eclesial, é um problema que afeta propriamente a preocupação pastoral da Igreja.
  • A prática do homossexualismo [está] ameaçando seriamente a vida e o bem-estar de grande número de pessoas.
  • A opinião segundo a qual a atividade homossexual seria equivalente à expressão sexual do amor conjugal ou, pelo menos, igualmente aceitável, incide diretamente sobre a concepção que a sociedade tem da natureza e dos direitos da família, pondo-os seriamente em perigo.
  • A catequese poderá ajudar inclusive as famílias em que se encontrem pessoas homossexuais, a enfrentar um problema que as atinge tão profundamente.
 
Outros documentos:
  • Os atos homossexuais não se podem, de maneira nenhuma, aprovar. (...) Na Sagrada Escritura, as relações homossexuais são condenadas como graves depravações. (...) As legislações que favorecem as uniões homossexuais são contrárias à reta razão. A legalização das uniões homossexuais acabaria, portanto, por ofuscar a percepção de alguns valores morais fundamentais e desvalorizar a instituição matrimonial. (...) Há razões válidas para afirmar que tais uniões [homossexuais] são nocivas a um reto progresso da sociedade humana, sobretudo se aumentasse a sua efetiva incidência sobre o tecido social. (...) Todos os fiéis são obrigados a opor-se ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. (...) O respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. (1)
  • Existem setores onde não se trata de discriminação injusta tomar em consideração a tendência sexual, por exemplo, na adoção ou no cuidado das crianças, nó trabalho dos professores ou dos treinadores atléticos e no recrutamento militar. (...) A passagem do reconhecimento da homossexualidade como fator, na base do qual é ilegal discriminar, pode facilmente levar, se não de modo automático, à proteção legislativa e à promoção da homossexualidade. (...) Existe o perigo de a legislação, que faz da homossexualidade uma base para certos direitos, encorajar deveras uma pessoa tendencialmente homossexual a declarar a sua homossexualidade ou até mesmo a procurar um parceiro, aproveitando-se assim das disposições da lei.(2)
  • Certamente, na atividade pastoral estes homossexuais assim hão de ser acolhidos com compreensão e apoiados na esperança de superar as próprias dificuldades pessoais e a sua inadaptação social. (...) Segundo a ordem moral objetiva, as relações homossexuais são atos destituídos da sua regra essencial e indispensável. Elas são condenadas na Sagrada Escritura como graves depravações e apresentadas aí também como uma consequência triste de uma rejeição de Deus. Este juízo exarado na Escritura Sagrada não permite, porém, concluir que todos aqueles que sofrem de tal anomalia são por isso pessoalmente responsáveis; mas atesta que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados e que eles não podem, em hipótese nenhuma, receber qualquer aprovação. (3)
  • O caminho formativo [dos candidatos ao sacerdócio] deverá ser interrompido no caso do candidato, apesar do seu empenho, do apoio do psicólogo ou da psicoterapia, continuar a manifestar incapacidade para enfrentar de modo realista, ainda que com o progresso do crescimento humano, as suas graves imaturidades (fortes dependências afetivas, notável falta de liberdade nas relações, excessiva rigidez de carácter, falta de lealdade, identidade sexual incerta, tendências homossexuais fortemente enraizadas, etc.). (4)
  • Será tarefa da família e do educador procurar antes de mais nada individualizar os fatores que levam à homossexualidade: descobrir se se trata de fatores fisiológicos ou psicológicos, se esta será o resultado de uma falsa educação ou da falta de uma evolução sexual normal, se provém de um hábito contraído ou de maus exemplos ou de outros fatores. (...) Existe mais no profundo, a congênita fraqueza do homem, como consequência do pecado original; esta fraqueza pode levar à perda do sentido de Deus e do homem e ter suas repercussões na esfera da sexualidade. (5)
  • Uma problemática particular, que se pode manifestar no processo de maturação-identificação sexual, é a da homossexualidade, que, aliás, se difunde cada vez mais nas culturas urbanas. (...) Os jovens precisam de ser ajudados a distinguir os conceitos de normalidade e de anomalia, de culpa sugestiva e de desordem objetiva, evitando induzir hostilidade e, por outro lado, esclarecendo bem a orientação estrutural e complementar da sexualidade em relação à realidade do matrimônio, da procriação e da castidade cristã. (...) Muitos casos, especialmente quando a prática de atos homossexuais não se estruturou, podem ser ajudados positivamente por meio de uma terapia apropriada. (...) Os pais, por seu lado, no caso de advertirem nos filhos, em idade infantil ou adolescente, o aparecimento de tal tendência ou dos comportamentos com ela relacionados, façam-se ajudar por pessoas especializadas e qualificadas para darem todo o auxílio possível. (6)
Se estas afirmações não incentivam os atos violentos de homofobia e não agravam o estado de depressão e angústia em pessoas que não conseguem aceitar a própria homossexualidade, então... eu sou o Papai Noel. A Igreja que se declara, tão firmemente, como a "defensora da vida e dos direitos humanos", precisa fazer um sincero e humilde exame de consciência.

6 comentários:

  1. Fiquei estranhamente chateada com o suicídio desse rapaz, nem o conheço, mas acredito que ele deveria estar sofrendo muito.

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  2. Morreu, fudeu..
    Foi pro inferno

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    1. É você, Deus? Nossa, nunca imaginei que o Senhor fosse visitar o meu blog! É uma honra tê-lo aqui! Mas, peraí! Não sabia que o Senhor fala palavrão!... Ah, então não é Deus, é algum "anônimo" usurpador. Certamente muito religioso. Então, caro anônimo, você deve se lembrar de que seremos julgados de cada palavra... Se alguém foi ou não para o inferno, isso só Deus sabe. Sinceramente, eu me preocupo mais com você do que com o Gefferson. Ele, pelo menos amava. Você, provavelmente, nem sabe o que é isso.

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  3. acredito sim, na misericordia de Deus, e creio que muitos que se suicidaram,conseguiram sim o perdão!
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  4. Conheci o Gefferson Ferrer.. Me emociono muito todas as vezes que falo ou lembro dele. O conhecia a tão pouco tempo, mas me apeguei a ele. Ele era uma das melhores pessoas que eu já havia conhecido. Sempre doce, alegre, me dava ótimos concelhos. Confesso que hj sinto muito a falta dele, muito mesmo!! Até que um dia ele começou a se mostrar meio depressivo, inseguro e muitas outras coisas, e eu tentava anima-lo, Tentei falar sobre a vida, como a vida vale a pena ser vivida, e ele me dizia que era um "homem forte" e que não pensava na morte! Mas não me empenhei por inteiro. Tive a oportunidade de falar com ele antes de ele morrer, mas infelizmente ele já havia dito pra umas pessoas que já estava decidido. Lamento muito por tudo isso. Eu o amava muito, como um grande amigo, mas não tive a oportunidade de falar o qnt o amava :'( .. Por isso, ame, espalhe o amor, demonstre, faça as pessoas se sentirem amadas enquanto estão vivas, pq depois pode ser tarde de mais :( ... E a questão de "religiões", eu sou Cristã, e minha missão é espalhar o amor e não a religiosidade!! Orei muito por ele, chorei de mais!!

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  5. Em assuntos como homossexualidade, morte e suicídio, entre outros, acho o Kardecismo muito coerente. Sobre o suicida, ele diz que este em geral virará um "ovoide" e a partir de um futuro qualquer terá o direito de voltar à vida para reparar o mal que se fez ao se matar (porque a lógica é "o Universo deu, o Universo tira"). O entendimento de que a vida é uma escola e uma passagem necessária para o engrandecimento de cada um de nós, na qual há experiências boas e outras nem tanto, nos dá a força e compreensão para não cometer atos tão extremos e pesarosos como este. Como diz o velho provérbio: "Não há bem (alegria) que dure para sempre nem mal (tristeza) que nunca se acabe." Entender que a vida é cíclica e mutável é ter acima de tudo inteligência emocional para lidar com os altos e baixos por que todos passamos. Luz para este rapaz! Daniel

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