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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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12 de outubro de 2013

Ser criança

 
O Dia das Crianças, celebrado no Brasil hoje (enquanto alguns outros países têm outras datas para tal comemoração), inspira várias reflexões. De um lado, é claro, a realidade das crianças de hoje - algo que desperta a ternura adormecida, traz preocupações e, até assusta de vez em quando. É o famoso e eterno: "Na minha época, a infância era diferente". Por outro lado, os pensamentos de um adulto, gay, solteiro... Uma parte das ideias gira em torno do passado e daquilo que sobrou em mim dos tempos de criança. Outra parte, em tom um tanto melancólico, afirma: as crianças sempre serão dos outros, pois nunca serei um pai natural e a adoção - pelo menos no momento - está fora de cogitação.
 
Assim, tenho a admiração pela beleza, inteligência e sinceridade das crianças, misturada com a profunda indignação, diante dos atos de violência, cometidos tão frequentemente, tanto de maneira individual, quanto em forma de injustiça social. Cada criança merece respeito, cuidado, segurança e um futuro feliz que coincide com a felicidade preservada desde já.
 
Quanto à recordação da minha própria infância, sinto a gratidão e a saudade, ainda que tenha sido um período regado de lágrimas. Considero a minha infância feliz, mas naquele tempo eu era muito chorão. Não fazia ideia de que tinha sido um gay. Sempre achei que olhar com admiração em direção aos meninos, era algo perfeitamente natural. Na verdade, não se falava de homossexuais e a homofobia - pelo menos em forma conhecida hoje - nem fazia parte da realidade. Lembro-me apenas de uma ou duas piadas sobre homens efeminados. Eu ria também, porque era engraçado. Como que atrás de uma neblina, vejo-me brincando com as bonecas que, depois, misteriosamente foram substituídas pelos ursinhos. Cedo aprendi algumas tarefas "femininas", tais como alguns simples truques de costura e de tricô (sem saber que, algumas décadas mais tarde, "tricotar" seria o sinônimo de "conversa entre duas bichas", como afirma um dicionário), bem como de me sentir bem na cozinha. A curiosidade daquele tempo é que eu sempre era um "namorador de meninas" - desde o jardim de infância (acredite quem quiser). Até briguei por uma menina com um grandalhão na escola. Hoje vejo isso - assim como a total ausência de "trejeitos efeminados" - como o fruto de alguma intuição de autodefesa - tudo de forma totalmente inconsciente. Nunca rolou um beijinho sequer com uma menina. Era algo que hoje pode ser chamado de fachada, só que sem ser um propósito, ou uma "estratégia". Desde cedo senti atração pelos meninos. Nunca gostei de jogar bola, mas adorava assistir os outros jogando. Confesso que, nem na infância, nem na adolescência, experimentei a "angústia de ser diferente", pois, como falei, sempre achava tudo isso absolutamente natural.
 
Leio hoje em dia os relatos de meninos com 12-14 anos que descobrem a própria homossexualidade e já sabem defini-la como tal. Provavelmente estamos diante de uma época diferente. A mentalidade mudou, a mídia também. A visibilidade GLBTT é infinitamente maior, a autoconsciência também. Lamentavelmente, a homofobia ganhou também muito mais espaço. De um lado, fico espantado com uma criança de seis anos que foi autorizada a mudar de nome e de gênero no registro de identidade argentino. Ao mesmo tempo, assusta a quantidade de atos de bullying homofóbico, inclusive nas escolas primárias. 
 
Só me resta agradecer a Deus, aos meus pais e demais familiares, pela infância que tive e tentar preservar a "eterna criança" dentro de mim. E, parabéns a todas as crianças pelo dia de hoje. Que seja protegida a sua dignidade e cumpram-se as leis, principalmente aquela que é fundamental: de amar e de ser amado(a).

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