ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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18 de janeiro de 2014

Ser homossexual ou gay?


Escrevi várias vezes aqui sobre a dificuldade de promover o diálogo construtivo entre o dois "universos": o católico (ou cristão em geral) e o "LGBT". Os obstáculos começam bem antes do preconceito mútuo em si. Na verdade, tais obstáculos originam-se na incapacidade de usar as palavras com a devida compreensão. Isso começa na escola primária, as consegue se infiltrar até nas faculdades de teologia. Vale observar aqui que cada um desses "universos" possui a sua linguagem própria, sempre com uma margem de incompatibilidade que pode ser superada com uma dose de boa vontade e um pouco de esforço. Observo esse esforço, por exemplo, na assim chamada "grande mídia" que, aos poucos, vai modificando a sua terminologia, ao transmitir as notícias ligadas à Igreja. Agora conseguimos ouvir, com mais frequência, que o fulano de tal vai ser canonizado (e não santificado) pela Igreja etc. A Igreja, por sua vez e pelo menos em seus documentos oficiais, também consegue rever a sua linguagem, relacionada à homossexualidade. Um texto de 2002, assinado pelo Prefeito do Pontifício Conselho para a Família, traz uma distinção bastante curiosa: É inadmissível que se queira fazer passar como uma união legítima, e inclusivamente como "matrimônio", as uniões de pessoas homossexuais e lésbicas, até mesmo com a reivindicação do direito a adotar filhos. Nos documentos mais recentes esse equívoco já não aparece. O próprio conceito das uniões de pessoas do mesmo sexo parece ganhar, também, cada vez mais espaço, passando de algo "inadmissível" a um fato existente e digno de atenção. A evolução linguística, entretanto, parece não ter alcançado a mente de outros autores que, ainda que de maneira não tão oficial, também falam em nome da Igreja. Este é o caso do padre Paulo Ricardo, que em uma entrevista ao portal "Destrave", vinculado à "Canção Nova", afirma:

É preciso antes distinguir a pessoa homossexual do movimento gay. Homossexual é a pessoa que tem atração por outra do mesmo sexo. O gay é uma pessoa que assumiu uma postura política, ele é um militante. Nós católicos queremos acolher todos os homossexuais que estejam dispostos a renunciar ao gayzismo, porque este sim é incompatível com a moral cristã. 

Sem entrar na polêmica sobre o neologismo (copiado pelo padre do "filósofo" Olavo de Carvalho), pergunto: por que a postura política do movimento gay é incompatível com a moral cristã? Lutar contra o preconceito, defender a dignidade humana e zelar pela segurança das pessoas, não se encaixa aos deveres de um cristão? Ou a perseguição dos cristãos é ruim, enquanto a perseguição das pessoas homossexuais é boa e legítima? A militância católica fundamentalista está OK, mas a militância LGBT não está? Onde começa uma postura política? Não seria no momento em que, nas eleições de qualquer tipo, nego o meu voto ao candidato homofóbico? Ou quando mantenho e atualizo um blog, publicando as opiniões favoráveis às pessoas homossexuais?

Realmente, neste contexto, qualquer diálogo torna-se praticamente impossível...

Na mesma entrevista, o padre diz mais uma coisa: Não existe nenhuma homofobia em considerarmos a estrutura do mundo real. A estrutura do mundo real diz o seguinte: não existe nenhum modo de haver uma união genital entre duas pessoas do mesmo sexo. O cardeal Ratzinger, quando ainda prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, assinou um documento no qual dizia que nenhuma ideologia – no caso aqui a ideologia gay – será capaz de mudar a estrutura da realidade. Então eles podem repetir quanto quiserem, mas da união entre duas pessoas do mesmo sexo não sai vida e a união entre um homem e uma mulher gera vida. Esta é a estrutura do mundo real.

Quer dizer, eu sou irreal... É claro que ninguém vai aceitar dialogar comigo, afinal, eu não existo. Com todo respeito ao Papa emérito (citado acima cardeal Ratzinger), a "ideologia gay" não só é capaz de mudar a estrutura da realidade, mas já está fazendo isso há muito tempo. A antiga estrutura da "realidade", hermética e unânime em rejeitar as pessoas diferentes, está se abrindo, cada vez mais, à "ideologia do Evangelho" que consiste em atitudes de acolhimento, compreensão e, justamente, nas tentativas de diálogo.

Quanto à expressão do autor: "Não existe nenhuma homofobia", quero surpreender os meus (eventuais) Leitores e afirmar que - em certo sentido - concordo com isso. Prometo explicar melhor esta questão na próxima vez...

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